quarta-feira, 30 de abril de 2008

Carracó e as éguas

- “Minha senhora estas sardinhas são grandes e boas,
são autênticas éguas. Éguas.”

Começo por algumas generalidades Carracó…
Homem de pêlos hirsutos
No queixo, desconfio e de um arremedo
De bigode, pele sulcada por traços negros
De sujidade muito ao gosto da época
Nas camadas mais pobres e desprotegidas
Apesar de alguns donos de terra e vacas em sextuplicado
Mostrarem alegre conflito com a higiene,
Como nas novelas de reverberantes bafos de onça.
Assim eram, tempos de sujidade ao gosto
Traços negros de carestia marcados a escopo e cinzel
Casta de visões dantescas.
Carracó vendia sardinhas na época delas
Andava de aldeia em aldeia a fazer
A história da alimentação,
A quantas portas abriam por sardinhas.
Carracó o sagaz vendedor muito ao gosto
Da época, exprimia estridentemente
São grandes e boas, são autênticas éguas. Éguas.
Entende-se perfeitamente as éguas
Fêmeas do cavalo além de muito requestadas
Pelos senhores padres e todos quantos
Gostavam de montadas mais dóceis e seguras
Gostavam da sua nédia opulência,
Não atingindo ainda a plenitude rabeira.
São grandes e boas, são autênticas éguas. Sardinhas
Dóceis e seguras, mortas
Gostavam da sua nédia
Opulência
Sardinhas que colocaram Carracó no coração de alguns donos
De bons pedaços de terra e vacas
Donos que mostravam alegre conflito com a higiene.
São grandes e boas, são autênticas éguas. As sardinhas
Saltavam da caixa, eram fritas, provocando contemplações
Salivares nos felizes contemplados
Provocando nos vizinhos desinquietados
Contemplações salivares pelo forte cheiro
Proveniente do preparo histórico.
Uma égua por três ou duas pessoas – autêntica égua, presumo –
O progresso é evidente, bolos todas as manhãs.
Sem Carracó… sem ratinhos, sim os filhinhos dos leirões,
Fritavam-se envolvidos em ovo,
Dando-se até há primeira adolescência
Aos que mijavam na cama. E os colchões de palha
Ou folhelho não aguentavam tanto banho de ácido
Além dos bichinhos atraídos pêlo odor.

A partir do texto original de Armando Fernandes (13/12/07)

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Condescendência, por favor.

Sou um diletante,
o Novo João da Ega.
Aquele comunicador
de outros mundos
que se auto presenteia
com a complacência
dos guarda sóis.

Na varanda, no balcão
no banco do automóvel...
Ideias: corredores infinitos.
Inanimado mas forte
como as esculturas
dum tempo de faculdades graves
como um fraque rejubilante.

Porque somos assim?

Desde há muito que vivia intrigado
Quem somos? Porque nos comportamos assim?
Sem que se tornasse uma obsessão
-“Professor, porque somos assim?”

César havia dito: “Há, nos confins da Hispânia,
Um povo que não se governa nem se deixa governar”
Os conservadores resistentes iam recuando
Recuaram que aqui chegaram
E por aí ficando
Num território do qual não era possível fugir
Porque a seguir só havia mar.

Depois vê-se que nasceu Portugal
Uma batalha entre Dona Teresa e seu filho
E este, promessas,
Não se submeteu à vassalagem de Leão.
Somos um povo com mais de 850 anos
Povo insatisfeito, nunca acomodado,
Povo mar a dentro. Povo de promessas.
A 1910, a República, depois do regicídio.
Sucederam-se governos em constante regabofe.
Em 1921, Salazar (uma promessa) é eleito deputado,
E este, promessas, um dia permanece.
É chamado à vassalagem, em 1928, para assumir
Resiste e só aceitou depois de terem concordado
Com as condições de vassalagem que propôs.
Descendente de humildes proprietários agrícolas,
Humilde Salazar rodeado pela “Brigada do Reumático”,
Afastou-se do seu povo e impôs a ditadura que
Não passou de autoritarismo; condições de vassalagem.
1969 Mais uma vez, a “Brigada do Reumático”
Impôs a sua vontade.
1974 a democracia foi estabelecida.
Capitães, desagradados com os milicianos
Que não tinham a sua disciplina, o seu rigor e a sua classe.
E o povo aderiu à revolta em constante regabofe
Chegam os políticos do exílio
Spínola não concorda e seguiu como as Províncias
Portugal seguiu a Democracia,
Províncias a ditadura e a guerra civil.

Para a União Europeia entrámos
Quem fiscalizou
Não houve um único Governo.

Não houve um único Governo
Que fiscalizasse dois milhões de pobres.
Saibamos aproveitar esta última oportunidade
Para submeter à vassalagem os descendentes
Dos resistentes às antigas civilizações,
De uma vez por todas,
Acordem e governem ou se deixem governar.
Não podemos aceitar que
Se continue a insistir com direitos adquiridos
E outras regalias injustas.
Aos descendentes das antigas civilizações.
Portugal é de todos os portugueses,
Com os mesmos direitos,
As mesmas liberdades e as mesmas garantias.
Na trilogia Deus, Pátria e Família

Não mais à trilogia “Eu, Eu e Eu”.
Todos queremos mais e melhor vassalagem
A vassalagem tarda.

A partir do texto original de Olivério Teixeira (?/09/07)