Poema a partir de um discurso de opinião
Foram férteis em notícias bombásticas.
Para desgraça da lusa raça.
Só os emigrantes que, desde a década de sessenta,
Nos têm vindo a aliviar,
Com as suas receitas e a sua tradicional paciência
De senhora de Fátima
Para perdoar como bênção divina,
Alegraram este palmo de terra
Que mais parece uma horta de couves
Que não chegam para matar tanta fome.
Enfermiça e galopante caminhada
Para o desespero colectivo
Da nossa moribunda esperança e ancestral credibilidade.
Quase nove séculos.
A ter comando do mundo inteiro.
Hoje as armadas podem revelar,
O património de cada país.
Contudo, parecemos um bairro de
Burgueses beatos que brinca com a
Paciência dos submissos labregos,
Como quem atira côdeas de pão a cães enrugados que,
De famintos, já nem têm força para ladrar.
Quase nove séculos: o cancro do futebol.
As cadeias que temos já não chegariam
Para albergar a rapaziada.
De que valeram bandeiras em todas as sacadas,
As manifestações de júbilo pelo 4.º lugar,
Os dez estádios em que se esbanjaram (sem construir prisões)
Ainda restam do Salazar!
Debaixo das pontes da nossa fundação colectiva.
Como o bom senso aconselharia,
Será que a Justiça funciona como uma âncora e
As instituições merecem a credibilidade de
Quase nove séculos de sangria acumulada
E de História eloquente que mostrámos ao mundo e
As poucas barras de ouro que
Ainda restam de Salazar!
Quase nove séculos depois: Soube-se que,
São autuados, diariamente, milhares de cidadãos
Que correm para ganhar o pão que comem ou o pico
Para partirem o pão, deixando impune quem come
Á nossa custa e não usa pico.
Os políticos são implacáveis,
Com a eterna moralidade dos bodes expiatórios,
E com as poucas barras de ouro que
Ainda restam do Salazar.
Quase nove séculos depois: Gastos com estudos
Que quase duplicaram.
Sócrates encomendou estudos, pareceres,
Projectos de consultoria a entidades externas
Á administração pública, no valor de 77,7 milhões,
Contra os 43,6 milhões gastos em 2005.
Muito estuda ele. É sabedor.
Meus leitores,
A quem alguns desses estudos foram encomendados,
Á Fundação do Mário Soares (36 mil euros)
E á do Ministro da Defesa,
Severiano Teixeira (72,5 mil euros).
Compensando camaradas para atenuar logros
De círculos uninominais
– e a infeliz coesão do povo á volta de um algarvio –
Com as poucas barras de ouro que
Ainda restam do Salazar.
Quase nove séculos;
4 mil dirigentes da função pública comendo,
Bebendo, viajando e repousando,
Custam ao estado 9 milhões de contos.
Consta que, naquela semana, o Governo que tirou aos
Funcionários direitos adquiridos,
Alargou esse suplemento mensal
A mais 32 titulares de cargos de comando,
Direcção e chefia da GNR: zelosas e abençoadas barrigas;
E as poucas barras de ouro que
Ainda restam do Salazar.
Quase nove séculos depois: Que bela sociedade,
Onde se aperta o pescoço aos pacientes,
Alargando o colarinho aos gordos e bacorinhos,
Exótica mania de coleccionar quadros de feira;
E as poucas barras de ouro que
Ainda restam do Salazar.
Sem comentários:
Enviar um comentário